A SEGUNDA VEZ DO 9º MÊS >> Kika Coutinho
Então, de novo, estou prestes a ser uma mulher no 9º mês de gestação.
Dessa vez foi diferente, devo admitir.
O tempo passou em um instante. Um único instante e eu já estava aqui, inchada, pesada, com o umbigo pra fora. Foi tão depressa que não tive tempo de escrever. Não refleti tanto, não passei a mão na barriga com tanta frequência, não lambuzei o corpo de creme conforme devido, não comprei calças de gestante, e não li nenhum capítulo de “O que esperar quando está esperando”. Nada.
Eu pisquei os olhos e estou prestes a parir.
Ainda me assusto quando passo perto de um espelho: “Tô grávida mesmo”, repito para mim mesma, em voz baixa. Estou.
E a Olívia, essa minha segunda filha, não terá tantos textos e tantas histórias. Não terá tido a vida intra-uterina sob o efeito da hidroginástica e da drenagem, mas, filha, amo-te já, com a intensidade que não se relaciona com as coisas mundanas.
Talvez essa seja a primeira lição que aprendi com a minha menina: o amor nada tem a ver com a rotina prática. Nada. O amor que dedico a minha filha não tem relação com as vezes em que passo creme ou com as alfaces que engoli em nome da boa saúde dela. Não.
O amor que lhe tenho, filha querida, tem relação com os suspiros de susto e de alegria cada vez que me deparo com o seu chute. O amor que lhe dedico tem relação direta com a imensa gratidão que tenho pela vida toda vez que o ultrassom me mostra as batidas do seu coração.
Tem ligação, sim, o amor, com a felicidade infinita e a alegria incalculável que sinto, sempre, todos os dias, mesmo que eles passem depressa. Todos os dias sinto uma imensurável alegria e gratidão por ter a imensa sorte de ser — olha que coisa — sua mãe. Sua mãe...
Fonte: Crônica do Dia
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